quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Rádio Xadrez com Anastasiya Karlovich

Anastasiya Karlovich é assessora de imprensa da FIDE
ANASTASIYA KARLOVICH TEM O emprego que muitos enxadristas gostariam de ter.

Nos mais importantes torneios internacionais de xadrez, ela tira fotos diretamente do palco dos jogos, senta-se entre os jogadores e comenta com eles sobre a partida ainda no calor do confronto.

Como se isso não bastasse, Anastasiya, 31 anos, já ganhou a medalha de ouro no 1º tabuleiro da equipe feminina da Ucrânia no Campeonato Juvenil Europeu por Equipes e possui um conhecimento enxadrístico acima da média mundial - seu rating ELO atual é de 2230 -, sendo WGM desde os 21 anos de idade (aprendeu a jogar, na escola primária, aos 9 anos).

Formada pela Academia Nacional de Direito da Ucrânia, Karlovich dá aulas, na mesma instituição, de Direito Constitucional para Países Estrangeiros e finaliza seu pós-doutorado, enquanto viaja pelo mundo a trabalho e lida com jogadores, imprensa e organizadores nas competições em que atua.

A advogada, que mora em Kharkov, segunda maior cidade da Ucrânia, atua como jornalista freelancer há oito anos. No começo, publicou reportagens para o ChessBase e fez a cobertura fotográfica do Campeonato Mundial 2010, em Sofia, Bulgária, e da Olimpíada de Xadrez 2010, em  Khanty-Mansiysk, Rússia.

Anastasiya dirige coletiva de imprensa de Anand e Carlsen
Daí para frente não parou mais: atuou como membro do time de imprensa da Federação Turca de Xadrez e foi contratada pela FIDE, em 2011, para ser assessora de imprensa da entidade, durante seus eventos oficiais, como o Grand Prix, os matches pelo Campeonato Mundial (feminino e absoluto) e a Olimpíada de Xadrez.

Rádio Xadrez apresenta, na entrevista a seguir, um pouco da visão inovadora desta jovem jornalista, que está ajudando a construir uma boa reputação e imagem do esporte na mídia, além de trazer números e informações dos bastidores da cobertura do Campeonato Mundial de Xadrez, entre o GM Magnus Carlsen e o GM Viswanathan Anand!

Rádio Xadrez – Quantos países você já visitou?
Anastasiya Karlovich - Eu realmente nunca contei, mas devem ter sido mais de 30 países.

Rádio Xadrez – Como é seu trabalho na FIDE?
AK – Durante eventos FIDE, trabalho como uma assessora de imprensa. Meu papel é bastante variado e as responsabilidades dependem do formato do evento. Geralmente, tento estabelecer e manter uma boa publicidade durante os campeonatos, representar a FIDE e gerenciar a comunicação entre todas as partes envolvidas nos eventos.

Rádio Xadrez – Fale-nos um pouco sobre como era sua rotina diária no Campeonato Mundial Anand-Carlsen.
AK – Não existe uma rotina durante tais eventos! Muitas coisas interessantes estão acontecendo e nenhum dia se parece igual. Posso dar um exemplo: estava tirando fotos antes dos jogos, dia após dia, mas, mesmo estando lá os mesmos dois jogadores, no mesmo lugar, cada dia não se parecia com o outro. Podia sentir diferentes energias no palco e eu estava tentando captar novas histórias nas emoções e no comportamento deles.

Rádio Xadrez – O que você pensa quando um jornalista faz uma pergunta estúpida na coletiva de imprensa? Isso ocorre frequentemente?
AK – É sempre difícil julgar quando uma pergunta é estúpida ou não. Isso é muito subjetivo. Às vezes, nós podemos ouvir as mais interessantes respostas para uma dita “pergunta estúpida”. Algumas questões podem soar estúpidas para jogadores com mais de 2700 pontos de ELO, porém podem ser muito interessantes para os fãs de xadrez ou para aqueles que não têm muito conhecimento sobre o jogo. Gosto muito da história de quando Viswanathan Anand, respondendo a mais popular questão de jornalistas que não conhecem muito sobre xadrez (“Qual é sua peça favorita?”), disse: 'eu tenho perdido tantas delas, que eu me ensinei a não me apegar a nenhuma peça'. Como moderadora da coletiva de imprensa, é importante para mim fazê-la ocorrer de forma tão eficiente e sem tensões quanto possível. Por outro lado, já houve situações em que alguns jornalistas tentaram destruir o psicológico dos jogadores, fazendo perguntas provocativas. Acredito que é importante “proteger” os jogadores, evitando questões que estão completamente fora do escopo da coletiva de imprensa.

Rádio Xadrez – Você não é formada em Jornalismo, mas em Direito. Como começou a trabalhar com o jornalismo? Você estudou para melhorar suas habilidades nesta área ou aprendeu com a prática?
AK – Minha formação em Direito é, na verdade, bastante complementar ao meu trabalho. Existem muitos regulamentos de xadrez, cada torneio tem suas próprias regras, e um dos meus deveres é conhecer cada uma delas e estar ciente das suas mudanças. Minha formação também ajuda no trabalho da Comissão de Jornalistas. Estudei as coisas básicas do Jornalismo pela leitura de livros especializados, por diferentes artigos de xadrez, em reportagens, fotos e em entrevistas. Eu tenho sorte de ter amigos que me ajudam a aprender e melhorar. E, naturalmente, muito da prática e do aprendizado vieram com meus erros :-).

Rádio Xadrez – Você é uma mulher bonita. Obviamente, muitas pessoas apreciam isso mais do que seu talento e te procuram unicamente por sua beleza, não por suas habilidades. Como você lida com isso em seu trabalho?
AK – A beleza salvará o mundo :-).

Rádio Xadrez – Como você concilia sua vida pessoal com trabalho, viagens e campeonatos?
AK – Meu gato sente minha falta, mas ele entende que eu gosto desse trabalho. :-)

Rádio Xadrez – Você tem algum outro hobby além do xadrez?
AK – É difícil dizer onde meu trabalho se separa dos meus hobbies. Gosto de tirar fotos, mas isso é também parte do meu trabalho. Gosto de viajar, então visito novos países todo ano por causa do trabalho e do xadrez também.

Rádio Xadrez - Você tem um site oficial ou blog?
AK - Apenas meu twitter: http://twitter.com/NastiaKarlovich :-).

Rádio Xadrez – Qual enxadrista foi o mais fácil e o mais difícil de entrevistar? Por quê?
AK – É sempre difícil entrevistar alguém que acabou de perder algum jogo. Eu sempre sinto muito por isso, mas ainda assim tenho de fazer as perguntas.

Rádio Xadrez – Qual enxadrista você gostaria de ter entrevistado e ainda não o fez? Por quê?
AK – Eu gostaria de entrevistar o GM Vassily Ivanchuk, mas ainda estou trabalhando nas minhas perguntas...

Karlovich entrevista a húngara GM Judit Polgár
Rádio Xadrez – Fãs de xadrez e a maioria dos enxadristas reclamam que não há uma cobertura adequada do esporte na mídia. Como mudar isso? O que você acha que enxadristas e organizadores podem fazer para atrair a mídia?
AK – Essa é uma questão muito generalizada e me pergunto onde é esse lugar onde a maioria dos enxadristas pensa assim :-). Acho que não podemos dizer que não houve cobertura adequada para eventos como o Campeonato Mundial 2013. A cobertura foi muito expressiva. É difícil comparar coberturas em jornais durante o Campeonato Mundial de Chennai ou Moscou e durante campeonatos regulares nas escolas, pois são eventos diferentes. Posso dizer, falando apenas sobre os eventos FIDE, que o número de pessoas e da própria mídia interessada no xadrez está crescendo. Acredito que podemos ainda melhorar a situação e existem muitas direções para trabalharmos. Essa é uma das razões pelas quais a FIDE criou a Comissão de Jornalistas. Todos são bem-vindos para ajudar e compartilhar suas ideias, assim encontraremos novos caminhos para atrair mais mídia para o esporte.

Ivanchuk, Karlovich e Gelfand
Rádio Xadrez – GM Boris Gelfand disse-me uma vez (leia aqui) que a cobertura da televisão não é o mais importante meio para o xadrez, mas, sim, as modernas tecnologias, especialmente a internet, que é extremamente adequada ao jogo. Você concorda? Em sua opinião, qual é o futuro do xadrez na mídia?
AK – Xadrez não é um tema fácil para uma audiência despreparada. Pessoas que vão assistir aos jogos ou veem os comentários ao vivo na internet são provavelmente mais conhecedoras do jogo do que aquelas que assistem à TV. Também é mais fácil encontrar qualquer coisa na internet, não importa em que parte do mundo você esteja. Ao mesmo tempo, no match Anand-Carlsen, nós tivemos muitas novas experiências. Doordashan, a maior rede de televisão da Índia, e NRK TV, um canal da Noruega, tinham direitos exclusivos de transmissão para todos os jogos e coletivas de imprensa. Os números oficiais mostraram que o canal indiano teve uma variação de 75 a 105 milhões de telespectadores por dia, dependendo da duração do jogo e da coletiva. Uma versão completa do artigo com os números está aqui. Também sabemos que a televisão na Armênia segue todos os passos da equipe nacional deles. Podemos dizer que, em alguns países, devido à popularidade dos seus jogadores, os canais de televisão já estão prontos para cobrir os jogos e as pessoas também estão prontas para assisti-los! A televisão é importante para o crescimento da popularidade do xadrez nesses países e o xadrez pode ser, na verdade, um grande mercado, como nós pudemos ver na Índia, durante o Campeonato Mundial.

Rádio Xadrez – O que você sabe sobre o Brasil? Você gostaria de vir para cá?
AK – Quando eu penso sobre o Brasil, eu imagino carnaval, oceano azul e a estátua de Jesus Cristo no topo da montanha no Rio de Janeiro. Eu também já li a Constituição do Brasil, então tenho uma ideia sobre o sistema político e constitucional do País. Quando era muito nova, li o romance “As doze cadeiras”, escrito pelos autores soviéticos Ilf e Petrov. O personagem principal, Ostap Bender, sonha em viajar para o Rio de Janeiro, “a cidade dos seus sonhos”. Eu acho que o sonho dele de ir para o Rio foi compartilhado por uma geração inteira de soviéticos e este sonho ainda é uma coisa bastante atrativa :-).

Fotos são de David Llada, Evgeniy Atarov, Mahesh JM., Arman Karakhanyan

Leia abaixo no original em inglês (Read bellow in English)



Anastasiya Karlovich has a job that every chess player would like to have: in the most important international chess tournaments, she takes pictures at the stage of the games, sits between the competing Grandmasters and interviews them just after the end of their games.

As if that were not enough, Anastasiya, who is 31 years old, earned the golden medal at the first board with the Ukrainian team in the European Youth Team Championship and she has a “chess knowledge” above the world average – her current FIDE rating is 2230 and she became a WGM when she was 21 years old (she learnt to play chess at 9, in primary school).

Graduated from the National Law Academy of Ukraine, Karlovich teaches Constitutional Law of Foreign Countries at the same Academy and pursues her PHD there, while travelling around the world wherever there is an important chess event, dealing with chess players, organizers and the media.

The lawyer, who lives in Kharkov, the second largest city in Ukraine, started her journalist career eight years ago. In the beginning, she published reports on the ChessBase site, and then worked as a photographer at the World Chess Championship match of 2010 in Sofia, Bulgaria, and later at the Chess Olympiad in Khanty-Mansiysk, Russia.

Thereafter, she stopped no more: she became a member of the press team of the Turkish Chess Federation, then, since 2011, she worked as the FIDE Press-officer during all major FIDE events, such as: the Grand Prix, the World Chess Championship and the Chess Olympiad.

WCC 2013: Karlovich, Anand and Carlsen
Radio Xadrez presents, through the interview below, a little bit about the innovative vision of this young journalist, who is helping to build a good reputation for our sport in the international media. The interview shows also numbers and backstage information about the coverage of the latest World Chess Championship match between GM Magnus Carlsen and GM Viswanathan Anand!

Rádio Xadrez - How many countries have you been to?
Anastasiya Karlovich - I’ve never really counted but it seems to be more than 30 countries.

Rádio Xadrez - How is your job at FIDE?
AK - During FIDE events I work as a FIDE Press Officer. The role is very varied and my responsibilities depend on the format of the event. In general I try to establish and maintain good publicity during chess events, represent FIDE and manage communication between all parties involved.

Rádio Xadrez - Tell us a little about your daily routine in the 2013 World Championship.
AK - There is no daily routine during such events! So many interesting things were happening and each day they didn’t look the same. I can give you an example… I was taking photos before the games day by day but, even if there were the same two players, same place, each time it was not alike. I could feel different energy at the stage and I was trying to catch new features in their emotions and behavior.

Rádio Xadrez – What do you think when a journalist asks a stupid question at a press conference? Is it common?
AK - It’s always hard to judge when the question is stupid or not. It’s very subjective. Sometimes we can hear the most interesting answers for so-called “stupid” questions. Same question can sound stupid for 2700+ players and can be very interesting for chess fans and those who don’t have so much chess knowledge. I like so much the story when Viswanathan Anand answering the most popular question of journalists, who don’t know much about chess: “What is your favorite piece”, said “I have lost so many of them, that I have taught myself not to get attached to any of them.” As the one, who moderates the press conference, it’s important for me making them run as efficiently and smoothly as possible. At the same time there were situations when some journalists tried to destroy mood of the players by asking provocative questions. I believe it’s important to “protect” players and avoid questions which are completely out of the scope of press conferences.

Rádio Xadrez - You didn't graduated in journalism, but in law. How did you begin work in the news? Have you studied to improve your abilities in this area or did you learn everything just through practice?
AK - My law education is actually very useful in my work. There are many regulations in chess, every tournament has its own regulations and it’s one of my duties to know them and be aware of changes. My education also helps in work of the Journalist Commission. I studied the basic things of Journalism by reading specialized books, studying different chess articles, reports, photos and interviews. I’m lucky to have friends who helped me to learn and improve. And of course lots of practicing and learning from my mistakes :-).

Rádio Xadrez - You are an attractive woman. Obviously, many people appreciate it more than your talent and only see your beauty, not your skills. How do you deal with it in your work?
AK - Beauty will save the world :-).

Rádio Xadrez - Do you have a blog or personal site?
AK - My twitter is http://twitter.com/NastiaKarlovich :-).

Rádio Xadrez - How do you arrange your personal life with your work, trips and championships?
AK - My cat misses me but also understands I like this job :-).

Rádio Xadrez - Do you enjoy any other hobby besides chess?
AK - It’s already difficult to say where the border between my work and my hobbies is. I like to take photos but it’s also part of my job. I like to travel, so I visit new countries every year because of my job and chess too.

Rádio Xadrez - Which chess player was easier to interview and which was hardest? Why?
AK - It’s always hard to interview a player, who has just lost his/her game. I always feel sorry but I still have to keep on asking questions.

Rádio Xadrez - Which chess player would you like to interview that you didn’t (of any epoch)? Why?
AK - I would like to interview Vassily Ivanchuk but I’m still working on my questions…

Rádio Xadrez - Chess fans and also most of chess players reclaims that there isn’t an adequate coverage for chess in the news. How can we change it? What do you think that players and organizers should do to attract the media?
AK - It’s a very general question and I wonder where this place is, you learned the opinion of the most chess players :-). I don’t know if we can say it was an “adequate coverage” for such events like World Championship Match 2013 but it looked very impressive. It’s hard to compare coverage in news during the world championship match in Chennai or Moscow with the regular chess championship in the school. I can only speak about FIDE events and the numbers say the interest and attention of media and people are only growing. I believe we can still improve the situation and there are many directions to work on. It was one of the reasons FIDE created the Journalist Commission. Everyone is welcome to help, to share his/her ideas, so we will find new ways to attract more media.

Rádio Xadrez – GM Boris Gelfand once told me that TV broadcast is not the most important media for the chess, but modern technologies. Especially internet, that is extremely suitable for chess. Do you agree with it? In your point of view, what’s the future of chess coverage news?
AK - Chess is not an easy topic for an unprepared audience. People, who come to watch the games and live commentary in the Internet are likely have chess knowledge compared to those who watch TV. It’s also easier to find everything in the Internet no matter in which part of the world you are. At the same time during the match Anand-Carlsen we had quite new experience. Doordarshan, India’s Largest Television Network, and NRK TV channel in Norway had inclusive rights for live broadcasting of all games and press conferences of the Match. Official numbers reported by the Doordarshan TV station ranged between 75 millions and 105 millions per day, depending on the length of the game followed the coverage. Full version of the article with statistics is here. It’s also known that TV in Armenia follows all steps of Armenian national chess team. So we can say that in some countries, due to popularity of their players, TV channels are ready to broadcast the games and people are ready to watch them! It’s important for growth of popularity of chess in those countries and it can be actually a huge market as we could see in India.

Rádio Xadrez - What do you know about Brazil? Would you like to come here?
AK - When I think about Brazil I imagine carnival, blue Ocean and the statue of Jesus  Christ on the peak of mountain in Rio de Janeiro. I’ve also read the constitution of Brazil, so have an idea about political and constitutional systems. When I was very young I read the novel The Twelve Chairs written by Soviet  authors Ilf and Petrov. The main character Ostap Bender dreams of travelling to Rio de Janeiro, "the city of his dreams”. I think his dream to get to Rio was common dream for the whole generation of Soviet people and it is still quite attractive one :-).

Pictures made by David Llada, Evgeniy Atarov, Mahesh JM., Arman Karakhanyan

Um comentário:

Janderson L. Cerqueira disse...

Excelente entrevista... é sempre gratificante conhecer um pouco dos "bastidores" do que acontece nos melhores torneios pelo mundo. Parabéns !!!

Excellent interview... it's a greatfull to know a little about what happens in backstages inside the biggest tournaments. Congrats !!!

Lances Finos