O desafiante vencedor: Boris Gelfand, de Israel |
Derrotado somente no desempate, Gelfand saiu vitorioso em quase todas as outras frentes: melhorou sua imagem perante o público, tornou-se um herói em seu país e, provavelmente, será um dos enxadristas que mais vai receber convites para futuros grandes torneios.
A Anand, sempre caberá ser Anand. Ele continua o mesmo após match, após o título. Era o favorito, o mais querido pela massa e venceu como se podia esperar que fizesse. Para Gelfand, as coisas mudam. Nem em seu próprio país, o enxadrista israelense gozava da fama que tem agora. Com seu jeitão conservador de professor de Ciências, Boris pôde mostrar ao mundo do xadrez quem ele realmente é e até onde sua força e suas ideias podem fazê-lo chegar.
Em termos de imagem e reputação, raramente um perdedor sai tão aclamado. Ao chegar a Israel, ele foi recebido por uma multidão no aeroporto (veja o vídeo), tanto de fãs quanto de repórteres. Virou notícia em jornais e programas populares de TV, que não costumavam dar espaço ao xadrez (assim como no Brasil) - um exemplo é a sátira elogiosa deste programa aqui. Deu entrevistas por todo o mundo e expôs-se com êxito de uma maneira que poucos enxadristas terão sequer a chance de fazê-lo.
Falar, porém, não é tudo e a exposição, nem sempre, vira benefício. O que fez a derrota reverter-se em saldo positivo para Gelfand foi o fato dele ter (muito) o quê dizer. A pior coisa que pode ocorrer a alguém que é ouvido é quando o conteúdo é vazio. Mas Gelfand estava preparado, tão bem quanto demonstrou no tabuleiro, para deixar a sua marca e as suas opiniões fortes, tão educadas que soaram serenas. Foi um autêntico professor ensinando às novas gerações, virou um herói israelense e angariou legiões de torcedores que passaram a conhecê-lo melhor e a se interessar pelo esporte.
Dentre as entrevistas que concedeu, gostei muito da que publicou Peter Doggers, editor-chefe do ChessVibes, parceiro da Rádio Xadrez. Eles conversaram, via Skype, uma semana após o duelo na Rússia, em 5 de junho.
Gelfand revelou, por exemplo, que Garry Kasparov havia se oferecido para ajudá-lo na preparação do match. O israelense, surpreso com o convite, pois Garry havia trabalhado com Anand na época do match com Topalov, recusou a proposta. Poucos jogadores da elite mundial poderão dizer que disseram “não” a Garry Kasparov.
A entrevista completa, em inglês, dividida em duas partes, você confere abaixo:
Um comentário:
Bem merecido as homenagens e o reconhecimento dos fãs!Boris Gelfand "... demonstrou no tabuleiro, para deixar a sua marca e as suas opiniões fortes, tão educadas que soaram serenas. Foi um autêntico professor ensinando às novas gerações, virou um herói israelense e angariou legiões de torcedores que passaram a conhecê-lo melhor e a se interessar pelo esporte".
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