sexta-feira, 13 de abril de 2012

A subjetividade do justo - por Leandro Salles


Krikor e Pablyto no Aberto de Fortaleza
Recentemente, está acontecendo no cenário enxadrístico nacional um debate de cunho técnico, porém de especial relevância para todos os jogadores de torneios: qual critério de desempate seria o mais justo?

O motivo do surgimento deste questionamento foi a utilização recente de critérios questionáveis pela maioria dos jogadores em torneios de abrangência nacional. Os dois exemplos que mais chamaram a atenção foram os do Aberto do Brasil de Rio Preto e do Brasileiro Feminino.

O critério mais combatido foi, sem dúvida, o maior número de partidas com as peças negras. Apesar de o seu uso ter sido recomendado pela FIDE, não é possível crer na sua superioridade como "mais justo" frente a outros critérios, como os milésimos medianos ou o sonneborg-berger.


Terao venceu o Brasileiro Feminino (Foto: Xadrez Total)
Em primeiro lugar, haveria real sentido em se adotar o maior número de partidas jogadas com as peças negras como critério, caso jogar com elas fosse uma desvantagem muito grande com relação a jogar com as peças brancas. Sabe-se, no entanto, que na prática o lance inicial dá a iniciativa, mas nem de longe garante a vitória.

A vantagem em se jogar de brancas, inclusive, dilui-se ainda mais quando o torneio abrange uma extensa faixa de ratings e conta com a participação de enxadristas de diversos níveis. Quanto menos gabaritados os jogadores, menor é a possibilidade de a posse do primeiro lance ser um fator decisivo para a vitória.

Além disso, há o fato de a maioria dos eventos no Brasil serem realizados pelo sistema suiço, em um número ímpar de rodadas (normalmente 7 ou 9). Neste caso, o maior número de partidas com as peças pretas como critério de desempate passa a funcionar ainda mais como uma disputa de cara ou coroa, já que o jogador depende basicamente da sua própria sorte para jogar uma partida a mais com uma das cores.

GM Rafael Leitão, crítico da recomendação da FIDE
Por outro lado, pode-se argumentar que todos os critérios possuem suas distorções, e por isso nenhum deles seria totalmente justo para determinar colocações entre jogadores com a mesma pontuação. Levando-se em conta, porém, o perfil dos jogadores e dos eventos realizados no Brasil, o maior número de partidas de negras definitivamente não é um critério coerente.

Logo, é bem provável que, seguindo esta mesma lógica, a CBX tenha lançado o comunicado 02/2012, deixando a cargo dos organizadores a escolha dos critérios, sem impor na prática a recomendação da FIDE.

A única dúvida que paira no ar ainda, porém, é sobre o que levou a FIDE a recomendar o desastroso critério. Com ele, a popularidade das peças pretas, sempre relegadas a segunda opção, irá com certeza aumentar.

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