segunda-feira, 9 de maio de 2011

Campeã, nova WIM e 1ª norma de WGM para o Brasil


Juliana Terao, 19 anos (entrevistada da Rádio Xadrez #15), acaba de entrar para a história do xadrez feminino brasileiro ao conquistar a primeira norma de WGM (Grande Mestre feminina) do País, com a vitória no Campeonato Sul-Americano sub-20, em Tarija, na Bolívia, disputado de 3 a 9 de maio. De quebra, a enxadrista de Suzano (SP) também se tornou WIM (Mestre Internacional entre as mulheres).




Segundo fontes consultadas pela Rádio Xadrez - como os árbitros Marius van Riemsdijk, Christian van Riemsdijk e Mauro Amaral; os MIs Herman van Riemsdijk e Rodrigo Disconzi; os GMs Gilberto Milos Jr., Rafael Leitão e Everaldo Matsuura; o CM Gerson Peres Batista (editor do CXOL); e o MF Álvaro Aranha, todos esses notáveis conhecedores da história do xadrez brasileiro -, nenhuma brasileira tinha conseguido lograr o feito até hoje.

Como a FIDE não fornece um mecanismo de busca para esse caso, o registro de normas conquistadas fica sob a responsabilidade das confederações, organizadores e dos próprios jogadores. A CBX (Confederação Brasileira de Xadrez) não pôde confirmar o ineditismo da conquista de Juliana, mas informa que, nos registros da atual gestão, não consta nenhuma norma nessa categoria. Tudo leva a crer que se trata de um fato pioneiro no xadrez feminino nacional.

Sendo assim, a enxadrista Juliana Terao é a primeira brasileira a conseguir uma norma de WGM! Outras jogadoras já bateram na trave, como a paulistana WIM Tatiana Ratcu (hoje não participa mais de competições oficiais) e a catarinense WFM Vanessa Feliciano.


Tarija, sul da Bolívia - cidade abrigou competição sub-20
A Rádio Xadrez não podia deixar passar o momento histórico e não esperou nem o retorno de Juliana ao Brasil. Sim, fomos até Tarija (por telefone, é claro), uma cidadezinha ao sul da Bolívia, com cerca de 170 mil habitantes, e conversamos com nossa número #1 poucas horas depois dela ter empatado sua última partida, garantindo o título do torneio, o título de WIM e a inédita norma de WGM para o Brasil.

Juliana somou 7,5 pontos em 9 rodadas (6 vitórias e 3 empates), sendo campeã invicta da prova e ganhando 13,2 pontos de rating. Na mesma competição, na categoria absoluta, o MF Luiz Guilherme Abdalla terminou na 5ª colocação.



Confira abaixo a transcrição completa da conversa com a brasileira.

ENTREVISTA

Rádio Xadrez - Parabéns pelos títulos triplos! Campeã Sul-Americana Juvenil, nova WIM brasileira e primeira norma de WGM para o Brasil!
Juliana Terao - Obrigada! Eu estava mesmo precisando mudar de título, já faz quase 10 anos que eu era WFM (risos). Eu tinha duas normas de WIM, mas agora consegui o título direto. Estou bastante feliz!

RX – Dez anos, sério? Parece que foi ontem que vimos você começar a jogar...
JT – Virei WFM quando eu tinha 11 anos. Daqui dois meses, faço 20 anos!

RX – E agora como WIM, pretende ficar quanto tempo até tornar-se WGM?
JT – Espero que não muito tempo! (risos)

RX – Vamos falar um pouquinho sobre o torneio. Essa última partida, você empatou em quantos lances [ela podia empatar para sagrar-se campeã]?
JT – Acho que uns 15 lances (risos). Eu estava cansada já.

RX – Justo. Você viajou para Bolívia com esse objetivo de voltar como WIM ou não estava pensando na titulação, apenas no torneio?
JT – Viajei com esse objetivo sim. Não dá para esconder. Ainda bem que consegui, porque aí compensa um pouco a primeira etapa do Pré-Olímpico, que joguei muito mal.

RX – Mas ainda há muitas etapas a serem disputadas.
JT – Ainda bem!

RX – Está no seu planejamento jogar algum torneio que valha norma de WGM?
JT – Não sei, nada certo ainda. O Zonal Feminino, acho que vale norma de WGM, e quero jogar.

RX – Quem vai virar WGM primeiro: você ou a WFM Vanessa Feliciano?
JT – Não sei (risos). Mas tanto faz, o que vale é que o Brasil precisa de uma WGM urgente.

RX – Você é a única brasileira com norma de WGM, correto?
JT – Não sei se sou a única. Talvez a Vanessa [Feliciano] já tenha feito, realmente não sei. Você vai ter de pesquisar isso (risos).

RX – Mas além de vocês duas, quem você acha que tem potencial para conseguir virar WGM nos próximos dois anos?
JT – Nossa! Não sei. Nos próximos dois anos? Para mim, acho que é pouco tempo (risos). Estou fazendo faculdade, está bem complicado ter tempo para estudar xadrez. Só neste torneio da Bolívia, já perdi uma semana de aula, é muita coisa. Vou ter de correr atrás.

Jornal El Nacional: destaque na capa
RX – Dois anos é tempo suficiente, veja só: você já tem uma norma, faz a outra no Zonal Feminino e a definitiva na Olimpíada de 2012!
JT – (Risos) É difícil, tenho de estudar mais para isso. Porém, antes de tudo, preciso terminar a faculdade. Quando estiver mais tranquila, aí começo a estudar xadrez de verdade. Por enquanto, eu não estudo nem quatro horas por semana (risos).

RX – Qual faculdade você faz?
JT – Administração, em Mogi das Cruzes (SP). Estou no 3º ano.

RX – É perto da sua cidade, não é?
JT – Sim. Vou de trem, chego em 15 minutos.

RX – Por que não vai dirigindo?
JT – Porque tirei a carteira de habilitação há pouco tempo, além de ter muito trânsito. De trem é bem mais rápido.

Matéria de página inteira sobre torneio
RX- Você disse que não tem estudado muito, como conseguiu vencer o torneio? Só com o talento?
JT – Claro que não, só hoje pude sair e conhecer a cidade! Estava concentrada, estudando nas horas vagas. Não foi nada fácil.

RX – Há quantos dias está aí? O que achou da cidade?
JT – Cheguei aqui no dia 2 de maio [há sete dias, portanto], volto ao Brasil só no dia 11. Da cidade, não pude conhecer muito, mas ela me pareceu bem diferente (risos).

RX – Diferente em que sentido? Dê-nos um exemplo.
JT - Os ônibus, por exemplo, são muito velhos. Aqui é uma coisa ou outra, ou se tem muito dinheiro ou não se tem nada. Há uma mistura muito grande de carros luxuosos de um lado e carros muito velhos e antigos do outro.

RX – Além disso, o que mais?
JT – As lojas aqui usam cadeados muito grandes para trancar as portas. Tem loja com até seis cadeados, na mesma porta. Nunca vi isso, você não acha estranho? Não posso falar muito porque não conheci muita coisa, na verdade.

RX – Realmente, é estranho. Você está aí com quem? Alguém da família?
JT – Com meu pai.

RX – E tiraram alguma foto legal para colocarmos no blog?
JT – Da cidade? Não sei, talvez meu pai tenha tirado, eu realmente ainda nem vi as fotos (risos).

RX – Alguma outra coisa te impressionou neste torneio? Na organização, no nível dos jogadores, etc...
JT – Fiquei impressionada com a imprensa daqui, é muito diferente do que no Brasil. O torneio saía no jornal todos os dias e sempre tinham repórteres no local dos jogos, entrevistando, filmando e fotografando. Hoje, na premiação, tinha meia dúzia de repórteres, contando com fotógrafo e todo o pessoal de imprensa, o que no Brasil é difícil de ver, não é?

RX – Com razão. Você sabe o nome de algum jornal que fez a cobertura aí, para podermos procurar a matéria?
JT – O El Nacional fez.

RX – Você perdeu para Artemis Guimaraes, próxima entrevistada da Rádio Xadrez, no Torneio Pré-Olímpico. O que achou do jogo dela?
JT – Ah, não! Não me lembre desta partida! (risos). Eu joguei pior do que uma garotinha do sub-10. Mas não posso negar que a Artemis vem se destacando muito ultimamente, é capaz que ela consiga uma das vagas para a Olimpíada, no time feminino. Quem sabe? (pausa). Olha só, está passando uma matéria na TV agora, sobre o torneio...

RX – Sério? Grava então pra gente assistir.
JT – Ok, vou gravar com o celular. Estou dando uma entrevista (risos). Gente, eu falo muito mal em espanhol... (risos).

RX – Você está chique, dando entrevistas internacionais. Mande a gravação para assistirmos e colocarmos no site depois.
JT – Ok, mas vou cortar a minha parte, não quero que me vejam falando mal em espanhol, que vergonha (risos).
WIM Juliana Terao, em Tarija, Bolívia

RX – Não faça isso.
JT – Vou editar, depois te mando (risos).

RX – Apurei aqui, enquanto conversávamos: ninguém tem normas de WGM no Brasil, você foi a primeira!
JT – Jura? Que legal! Estou feliz.

RX – Você está estudando xadrez sozinha?
JT – Não, tenho aulas com o Pelik [MI Jefferson Pelikian]. Às vezes, com o Matsuura também [GM Everaldo Matsuura].

RX – E quanto por cento desse título é devido ao trabalho do Pelikian?
JT – Olha, bastante viu (risos). Mas também é por causa do trabalho dos meus pais e do meu irmão [MF Rodrigo Terao].

RX – Mesmo? Irmãos geralmente brigam quando jogam juntos. Vocês conseguem jogar e estudar juntos?
JT – Atualmente, não dá. Ele também estuda muito para a faculdade e nossos horários não batem. Mas, quando sobra um tempinho, ele sempre me ajuda bastante. Eu editei aqui a reportagem da TV, você quer mesmo ver?

RX – Quero sim, vou subir no You Tube e postar no blog [vídeo abaixo].
JT – Ok.

RX - Mande também algumas fotos para publicarmos.
JT – Tudo bem, estou mandando.

RX - Isso é tudo, de novo parabéns pelas conquistas e boa sorte!
JT - Obrigada! Obrigada pela entrevista, me avise quando publicarem.

[Por Tiago A. dos Santos]


2 comentários:

Anônimo disse...

Muito boa a entrevista, parabéns a RX e para Juliana pela conquista, que não se deixou abater pelos resultados do pré-olímpico.

Anônimo disse...

Valeu Ju !!Nós suzanenses nos orgulhamos de você!!Nossa nova WIM e futura WGM !!
Parabéns família Terao (Um grande abraço Rui)
Sucesso a todos
Prof Raul

Lances Finos