A pedido do Grande Mestre André Diamant e para dar à comunidade enxadrística todas as versões do fato, postamos abaixo carta aberta de Diamant, publicada originalmente no Blog do Krikor, sobre o ocorrido entre André e o Grande Mestre Giovanni Vescovi na última rodada do Torneio Festa da Uva 2010, em Caxias do Sul.
Segue, também, um vídeo do ocorrido e o link para a postagem do GM Giovanni Vescovi em que o mesmo narra os fatos pelo seu ponto de vista.
Que cada um possa ler e tirar a sua própria conclusão.
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São Paulo, 11 de Março de 2010.
Prezados enxadristas,
Quero levar ao conhecimento de todos a minha versão do que aconteceu no Armageddon (desempate do ponto, após empate na partida pensada), ocorrido pela 9ª rodada do XI Aberto Festa da Uva, no último dia 7 de março, disputado entre o GM Giovanni Vescovi e eu.
Os últimos minutos da partida foram gravados em vídeo e está publicado aqui no blog do Krikor (http://krikorsm.blogspot.com). O vídeo começa com Dh4 quando estou melhor. Logo em seguida resolvi simplificar, já que meu adversário estava muito comprometido no tempo. Para mim, era claro que a vitória viria quando chegamos ao final de Damas.
Como pode ser visto no vídeo, em nenhum momento meu adversário reclama da maneira como eu jogo. Não há imagens minhas derrubando as peças ou deixando-as no meio das casas, e muito menos tenho tempo para analisar a posição durante o ajuste do relógio, como sugerido em seu blog (http://espnbrasil.terra.com.br/giovannivescovi).
Gostaria também de deixar claro que, de acordo com as regras da FIDE, em partidas relâmpago o jogador não pode exigir empate em posição nenhuma (nesse caso, o empate era favorável a ele, pois estávamos no Armageddon, e Vescovi tinha pretas) e que o árbitro que acompanhava a partida não declarou empate quando solicitado. Giovanni, que reconhece a existência da regra em seu blog, certamente também não me concederia o empate se estivesse na minha situação.
Na minha opinião, meu adversário, ao ver sua seta bem perto de cair, em atitude de desespero, parou a partida, pegou o relógio e começou a intimidar os árbitros para trocá-lo, alegando que o mesmo (utilizado na partida pensada e até ali no Armageddon) estava com defeito. Vale relembrar que, um jogador como ele, com 24 anos de experiência nacional e internacional em torneios de alto nível, sabe o quão proibido é parar e pegar o relógio com a mão, especialmente durante um apuro de tempo sem acréscimo.
Eu, muito surpreso, não tive atitude para confrontar meu adversário, e o relógio foi de fato trocado pela arbitragem, por outro analógico. O critério utilizado para ajustar o tempo, o “olhômetro”, provavelmente me custou alguns segundos que foram perdidos quando o relógio estava nas mãos do meu adversário. No fim, eu que tinha boa vantagem de tempo acabei perdendo poucos lances mais tarde.
No entanto, em seu post, uma questão não foi esclarecida. Já que jogamos a partida pensada toda e o Armageddon até ali com o dito relógio, por que justo aquele momento de tensão e desvantagem foi o escolhido para questionar o funcionamento do relógio e trocá-lo? Na velocidade em que estávamos jogando, considero virtualmente impossível perceber que o relógio estava sem corda, ou, de fato, com defeito.
GM André Diamant
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(...)
Na última rodada errei na abertura mas me defendi bem contra Andre Diamant e tivemos que disputar um tumultuado desempate.
Armaggedon
No calor da disputa ninguém se deu ao trabalho de pedir à organização um jogo de peças mais pesado e um relógio digital e isso foi um problema que comprometeu a justiça do resultado. As peças escorregavam muito e em um par de ocasiões tive que pedir ao adversário que as ajeitasse. Mas o problema crucial foi relativo ao relógio: a certa altura o relógio das brancas (Diamant) parou de andar.
Reclamei ao árbitro, deu-se corda no relógio rapidamente (afinal era um relâmpago e meu adversário ganhava segundos preciosos para pensar na sua jogada seguinte) e a partida continuou. Instantes mais tarde, já num final empatado de dama e dois peões para cada lado, novamente o relógio de meu adversário deixa de correr. Indignado e sem outras opções, exigi a troca do relógio. Agora o protesto vinha de meu adversário: como trocar o relógio a essa altura, e ainda mais como saber exatamente quantos segundos restavam para cada lado? Já não se falava mais em xadrez, e era evidente que as brancas utilizariam o regulamente e jogariam a dama para lá e para cá até fazer a seta das pretas cair.
Trocado o relógio a partida continuou com as brancas tendo pouco mais de meio minuto e as pretas por volta de 15 segundos. Para confundir meu adversário resolvi entregar um peão, o que curiosamente acabou sendo bom, pois a dama branca ficou mal posicionada e as pretas passaram a dar xeque perpétuo. Mas isso pouco importava, afinal não se pode reclamar as regras de empate em relâmpago (embora a leitura do Apendice das Leis do Xadrez no Handbook da FIDE não seja clara). De todo modo, ganharia quem fosse mais rápido no gatilho, e por estar com o relógio à minha direita acabei sendo eu.
Essa tremenda confusão deixou ambos os jogadores com uma terrível sensação de injustiça: quanto tempo o relógio deixou de funcionar, quanto tempo a mais para refletir meu adversário teve nas duas interrupções, será que nenhum dos lados foi prejudicado ou favorecido na troca do relógio? São perguntas sem respostas. A tecnologia veio para ajudar, e nada disso teria acontecido com um bom relógio digital. Mas pelo menos o público se divertiu...
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Registro em vídeo com o início do ocorrido:
Registro em vídeo com o início do ocorrido:
3 comentários:
Na realidade faltou coragem ao arbitro fazer cumprir as regras da FIDE, e decretar a vitoria do Andre. O Vescovi mais uma vez foi simplemente tramposo.
sim, o arbitro devia ter decretado vitoria para as brancas
Vitória das brancas. Fiquei um pouco em dúvida, mas firmei posição de que o maior papelão foi desempenhado pelo árbitro.
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