sábado, 19 de julho de 2014

Xadrez repete a polêmica do #VaiTerCopa?

A guerra dos tronos na série Game of Thrones, da HBO
HÁ ALGUM TEMPO EU não acompanho as notícias do xadrez internacional. 

Hoje, inteirando-me um pouco mais sobre a Olimpíada de Xadrez em Tromsø, Noruega, percebi que finalmente o presidente da FIDE se pôs em maus lençóis.

Pensa só: a Olimpíada de Xadrez organizada pela FIDE está em guerra contra ela mesma (dessa feita, o diabo é encarnado em seu comitê organizador).

Em uma paródia com o futebol, seria como se a FIFA quisesse mudar regras em cima da hora para beneficiar alguns países, e o Brasil, país anfitrião, não aceitasse, criando-se um impasse indissolúvel. Uma vez que a FIFA já haveria "dado" a Copa para o Brasil organizar, só o Brasil passaria a mandar no negócio, tendo poderes para contrariar a própria FIFA. 

Li a carta do Kirsan Ilyumzhinov, presidente da FIDE, que insinua ter dedo do Kasparov nas ações que o comitê organizador em Tromsø tem tomado - a mais forte e polêmica delas é a rejeição da inscrição da equipe feminina da Rússia, alegando estar esta fora do prazo. 

Se tiver mesmo influência de Kasparov nisso, o Ogro de Baku finalmente encontrou um jeito de começar a destituir o sistema ditador que domina há eras na FIDE: derrubá-lo de dentro para fora.

Como fazia nos tabuleiros, quando buscava em seu laboratório pessoal novidades de sua própria lavra para posições ditas ruins pela máquina, Kasparov não se conformou com um cenário negativo e o esmiuçou, anos a fio, até obter sua própria solução. 

Há muito tempo ele vem fazendo tentativas frustradas de bater de frente com o poderio econômico de Kirsan - inclusive sua autocandidatura ao cargo máximo do xadrez mundial e sua peregrinação mundo afora na ânsia de angariar apoiadores (leia-se "fundos"). 

O axioma de que "a FIDE é do Kirsan" e o cara tem dinheiro demais para ser destituído, ao que parece, começa a ruir graças a esta "novidade teórica" surgida à mesa. Quem seria capaz de dizer, anos atrás, que os comparsas de Kirsan, ou seja, seu próprio sistema, estaria um dia contra ele? 

Diz-se nos bastidores políticos que o pessoal lá na Rússia não está nada contente com a intromissão de Tromsø em uma gestão que, até o momento, estava à mercê da FIDE. E, é claro, a corja kirsaniana não ficará olhando estupefata a bomba-relógio que Tromsø postou à sua frente. Eles começaram a agir para resolver sua tarefa mais difícil até então: explicar ao mundo do xadrez como um comitê organizador chancelado pela FIDE pode se voltar contra ela própria.

Faltam 12 dias para a Olimpíada de Xadrez começar (ou não). Será que teremos no xadrez os mesmos movimentos do #VaiTerCopa e #NãoVaiTerCopa que vimos no Brasil? Esperemos ansiosos para saber.

[Por: Tiago A. dos Santos]



2 comentários:

Pablyto Robert disse...

Sério que você enxerga com bons olhos a atitude do Kasparov em tentar prejudicar o evento, para usar politicamente? É mais uma demonstração do espírito desportivo que ele sempre teve na carreira (lembra da divisão que o xadrez encarou por anos, com PCA e FIDE?).

Tads disse...

Não, eu não enxergo com bons olhos. Como também não aprovo a ditadura que o Kirsan impõe na FIDE, estando no poder há tanto tempo e usando meios tão sujos (ou mais) dos que os que foram feitos contra ele agora.

Lances Finos